Vigilância Genômica da Fiocruz monitora variantes da dengue no Paraná e Santa Catarina
Pioneira na vigilância das variantes de SARS-CoV-2 durante a pandemia, a Rede Genômica da Fiocruz, expandiu seu foco após o fim da emergência de saúde relacionada à COVID-19, passando a incluir a vigilância dos sorotipos de dengue que circulam no país. A coordenação da Rede Genômica na Fiocruz Paraná, realiza a vigilância dos sorotipos do vírus que circulam no Paraná e Santa Catarina, com dados publicados no portal da rede (https://www.genomahcov.fiocruz.br/dashboard-denv-pt/). A colaboração entre municípios e laboratórios estaduais fortalece a capacidade de resposta rápida e eficaz a surtos, garantindo que as intervenções de saúde pública sejam bem-informadas e direcionadas.
Nesta entrevista, Tiago Gräf, pesquisador da Fiocruz Paraná, fala sobre o avanço da vigilância genômica dos arbovírus no Brasil, que incluem vírus como dengue, Zika, chikungunya e febre amarela. A vigilância genômica é uma abordagem avançada de vigilância epidemiológica que se concentra na análise genética dos patógenos. Esse método permite monitorar as variantes virais em circulação, rastrear a introdução de novas cepas e entender as mutações que podem aumentar a transmissibilidade ou virulência dos vírus. Essa informação é fundamental para as autoridades de saúde pública na tomada de decisões estratégicas para o controle de surtos.
O portal da Rede Genômica da Fiocruz, que disponibiliza os dados levantados foi desenvolvido também dentro da Fiocruz Paraná, em um trabalho coordenado pelo produtor multimidia Wagner Nagib.
O que é a vigilância genômica dos arbovírus e como ela se integra à Rede Genômica da Fiocruz?
Vigilância genômica é uma forma de se fazer vigilância epidemiológica focada na genética do patógeno. No caso dos arbovírus (ex.: vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela), a vigilância genômica pretende estudar o genoma do vírus de pacientes com diagnóstico positivo para essas doenças. A partir disso, podemos monitorar quais variantes genéticas do vírus estão em circulação na região estudada, podemos também inferir quando esta variante foi introduzida e de onde ela veio. Além disso, pode-se estudar se mutações no vírus podem torná-lo mais transmissível ou virulento, gerando informação para os agentes de saúde tomarem decisões sobre como combater um surto causado por este vírus.
Como a Rede Genômica da Fiocruz surgiu?
A Rede Genômica Fiocruz foi criada em 2020 para fazer a vigilância genômica do SARS-CoV-2, mas com o fim da emergência em saúde causada por este vírus, a Rede passou a dedicar-se também à vigilância de arboviroses, que possuem grande importância na saúde pública do Brasil.
Quando começou o trabalho de vigilância genômica dos arbovírus pelo Laboratório de Referência e quantas amostras já foram sequenciadas até agora?
Iniciamos em novembro de 2023 e já foram sequenciadas cerca de 200 amostras. A maioria é de casos de dengue, mas já geramos também genomas de chikungunya e Oropouche.
Quantos municípios brasileiros contribuíram com amostras para a vigilância genômica dos arbovírus desde o início do projeto?
Municípios do Paraná e Santa Catarina têm nos enviado amostras por meio dos LACENs (Laboratórios Centrais de Saúde Pública) estaduais, somando um total de 115 municípios.
Qual sorotipo do vírus da dengue mostrou predominância nas amostras sequenciadas pelo projeto de vigilância genômica?
O genótipo V do sorotipo 1 (DENV-1V) é o mais frequente nas amostras da epidemia atual de dengue, tanto em Santa Catarina quanto no Paraná. A segunda forma mais frequente é o genótipo II do sorotipo 2 (DENV-2II) em ambos os estados. Além disso, também está em circulação, mas em frequência baixa ainda, o genótipo III do sorotipo 3 (DENV-3III).
Onde estão disponíveis os dados sobre a vigilância genômica da dengue e o que esses dados oferecem em termos de informação?
Todos os dados gerados pela vigilância genômica de dengue estão resumidos em um painel interativo de monitoramento (dashboard), disponível no site https://www.genomahcov.fiocruz.br/dashboard-denv-pt/ . Lá estão presentes dados de todas as instituições que já sequenciaram o vírus da dengue de amostras brasileiras, não apenas aqueles gerados pela Rede Genômica Fiocruz. A partir de dados genômicos públicos e depositados na plataforma EpiArbo do GISAID (https://gisaid.org/), é possível conferir a frequência de sorotipos e genótipos ao longo de cinco décadas de circulação de dengue no Brasil, sendo possível selecionar dados por região geográfica e estado brasileiro. Além disso, a frequência de circulação de sorotipos também é apresentada pelos resultados de testes laboratoriais (PCR) que estão disponíveis a partir de 2007. Apesar da abrangência temporal destes dados ser menor que o dado genômico, a representatividade populacional é muito maior, dando mais robustez nos cálculos de frequências e sendo possível observar o impacto de cada sorotipo nas sucessivas epidemias de dengue no Brasil.
Foto: Equipe Ascom/ Fiocruz Paraná