Semana de aniversário do ICC é encerrada com a presença de Margareth Dalcolmo
Referência no combate à Covid-19, voz ativa e influente durante a pandemia, a médica Margareth Dalcolmo ministrou, na última sexta-feira (4 de agosto), a palestra “Legado da Covid 19: o que aprendemos?”. O evento fez parte das comemorações de aniversário de 14 anos do Instituto Carlos Chagas (ICC) – Fiocruz Paraná.
“O Brasil aprendeu com a pandemia pagando um preço alto demais. Foi um excesso de luto”, afirmou Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. “A comunidade científica percebeu que o seu valor era inestimável e a população entendeu que havia uma produção científica nacional. Houve uma conjunção de fatores, de adversidades, que nós conseguimos vencer.”
A médica, pela sua atuação relevante e incansável junto à sociedade em um período tão dramático, foi designada como Embaixadora da Vacina, pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade, caminho principal assumido pelo Ministério para fortalecimento da saúde pública. “O negacionismo científico e as ações de grupos antivacinas têm prejudicado os índices de vacinação no país. A gente viu isso muito forte durante a pandemia. Ainda lutamos tentando reestabelecer índices de vacinação. O Brasil sofreu uma contaminação de desinformação. A população sempre teve uma enorme confiança no Plano Nacional de Imunização (PNI), mas, infelizmente, a retórica oficial da administração passada somada a ações de alguns grupos, inclusive de médicos, permitiu uma razoável contaminação na nossa população”, destacou Dalcomo.
A pesquisadora da Fiocruz lembrou ainda que foram as vacinas que permitiram, em 40 anos, que a expectativa de vida dos brasileiros subisse de 54 para 76 anos. “A desinformação contaminou uma população muito fragilizada e amedrontada por uma doença nova. O mundo continua ameaçado por pandemias. A do novo coranavírus não será a última. O mundo não pode mais ser apanhado desprevenido, sobretudo um país grande como o Brasil, de dimensões continentais, onde toda a logística de qualquer ação de saúde é muito complexa. Então, nós temos que estar preparados para novas eventuais pandemias, novas emergências sanitárias.”
Margareth Dalcolmo ressaltou o país mereceria ter orgulho daquilo que foi conseguido durante a pandemia. “A comunidade científica brasileira mostrou uma pujança muito grande. Apesar de todas as dificuldades que o Brasil tem, que antecede a própria pandemia, o Brasil é o décimo país em produção científica, em publicações de trabalhos, e isso não é pouca coisa, considerando as condições em que nós vivemos nos últimos três anos.”
A vinda de Dalcomo ao ICC no dia de seu aniversário é emblemática, como ressalta o diretor do instituto, Stenio Fragoso. “O ICC esteve atento durante todo o período crítico da pandemia, se adequando para atender às emergências, trabalhando intensamente na testagem para detecção dos pacientes afetados e na pesquisa genômica das variantes, buscando contribuir com todo seu potencial para a saúde da população brasileira, em articulação com o serviço de saúde. Essa resposta imediata às emergências e a compreensão da necessidade de preparação para futuras emergências ficou como legado desse período funesto que vivemos. Nos seus 14 anos, o ICC se entende hoje como ator importante na contribuição para o SUS, então, é de fato muito simbólico fecharmos uma semana de celebração trazendo uma pauta tão relevante e atual, por meio de uma profissional que se engajou profundamente com a sociedade e com a comunidade científica nesse período, com tanto para compartilhar conosco sobre suas vivências e aprendizados”, destaca Fragoso.
Fotos: Itamar Crispim