Fiocruz Paraná promove evento científico em alusão ao Dia Mundial da Doença de Chagas

por / quarta-feira, 16 Abril 2025 / Categoria Destaque, Instituto Carlos Chagas

Em 14 de abril, celebra‐se o Dia Mundial da Doença de Chagas, data que assinala um marco singular na história da medicina: foi justamente nesse dia, em 1909, que o médico sanitarista Carlos Chagas realizou, pela primeira vez, o diagnóstico comprovado da enfermidade em um ser humano – a menina Berenice. Tratou‐se de um feito pioneiro e sem precedentes, ao identificar de forma integrada o agente etiológico, o vetor, a sintomatologia e o ciclo de transmissão de uma nova patologia. Esse êxito inaugurou uma trajetória científica de vulto, estreitamente vinculada às ações de vigilância em saúde pública, ao desenvolvimento de pesquisas inovadoras e ao reconhecimento dos determinantes sociais como fatores centrais na prevenção e no controle de doenças.

O principal objetivo do Dia Mundial da Doença de Chagas é aumentar a conscientização pública e o conhecimento global sobre a doença, que ainda é negligenciada e afeta milhões de pessoas, muitas delas invisibilizadas pelas desigualdades sociais e pela negligência histórica. A data instituída durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, em 2019, após intensa mobilização.

Neste sentido, o Instituto Carlos Chagas (ICC/ Fiocruz Paraná) promoveu um evento especial com uma programação extensa. As atividades foram iniciadas pela manhã e se seguiram até o final da tarde, com a participação de convidados que apresentaram resultados de pesquisas científicas na área e debateram a epidemiologia da doença – considerada negligenciada –, mundial, nacional e regionalmente.

Os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) registram 7 milhões de infecções pela doença e 10 mil mortes anualmente. A maioria em comunidades pobres da parte continental da América Latina. Esse foi o tema abordado pela primeira convidada do encontro, a bióloga Michele Lima, da Secretaria da Saúde do Paraná. Ela apresentou os desafios para o enfrentamento da doença e nas ações de prevenção relacionados ao controle de vetores e vigilância epidemiológica nos municípios paranaenses. “Nosso trabalho busca identificar e classificar os triatomíneos, conhecidos popularmente como barbeiros, e que transmitem a doença. Uma média de 100 amostras desses insetos são analisadas anualmente e a positividade é de cerca de 22%”, ressaltou a bióloga.

Também representante da SESA PR, a médica Raquel Moraes falou sobre o tema “Discutindo a invisibilidade: análise epidemiológica dos casos de Doença de Chagas no Paraná”. Segundo ela, depois da definição da notificação compulsória em 2023, o estado registrou 135 notificações de casos agudos da doença até 2025. ”Trata-se de uma doença tão negligenciada que os agentes de saúde não conseguem nem pensar na doença de Chagas como uma hipótese diagnóstica e casos positivos passam despercebidos pelos postos de saúde, pelas UPAs e não chegam até nós”, resumiu.

Pesquisa de ponta para o enfrentamento da doença

Os pesquisadores Alessandra Guarnieri, do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas, e Ariel Silber, da Universidade de São Paulo, também foram convidados e apresentaram resultados de pesquisas na área. Alessandra falou sobre a investigação que desenvolve sobre a interação entre o Trypanosoma cruzi e o vetor triatomíneo, discutindo os custos biológicos da infecção para ambos e reforçando a importância da compreensão desse elo para o desenvolvimento de estratégias de controle mais eficazes. Já Ariel trouxe os resultados de uma pesquisa que tem como objetivo conhecer mais profundamente as vias metabólicas do Trypanosoma cruzi. “Investigamos como a via histidina‑glutamato sustenta a fisiologia de T. cruzi, por exemplo. Apesar do trabalho que estamos desenvolvendo, continuamos com o mesmo mistério, já que se trata de uma estrutura metabólica super complexa”, definiu. “Para esse público mais jovem, é importante mostrar que quando partimos para um projeto em que nenhuma das hipóteses se concretiza, não é preciso se desesperar. A ciência tem essa característica e é fundamental ter paciência, pesar, reavaliar os caminhos”, concluiu o pesquisador.

O impacto das reuniões anuais da SBPz para a ciência brasileira

Para fechar a programação, o pesquisador emérito da Fiocruz e um dos fundadores da Fiocruz Paraná, Samuel Goldenberg, apresentou um levantamento sobre o impacto dos 50 anos de reuniões anuais da Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz) para a pesquisa básica em Doença de Chagas. O tradicional encontro acontece na cidade de Caxambu, Minas Gerais, e reúne especialistas do mundo todo. “Depois da primeira edição, em 1974, houve um aumento de 13 vezes nas publicações científicas sobre a Doença de Chagas. Antes de 1974, a maior parte dos documentos científicos eram produzidos nos Estados Unidos e, partir de 1976, o Brasil passou a liderar esse ranking e a Fiocruz se tornou a primeira instituição em número de trabalhos publicados”, afirmou. “As reuniões trouxeram e trazem visibilidade para a produção científica brasileira e nosso exemplo reafirma a importância e o compromisso das sociedades científicas, como a SBPz, com a sociedade”, concluiu.

 


TOP