Fiocruz Paraná é referência em Leishmaniose na região Sul do país

por / segunda-feira, 12 julho 2021 / Categoria Sem categoria

Trabalho, que inclui realização de diagnóstico e capacitação de profissionais em áreas endêmicas, já foi desenvolvido em municípios dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

O Instituto Carlos Chagas (ICC/ Fiocruz Paraná) sedia, desde 2018, a subcoordenação de Reservatórios da Rede Fiocruz de Referência em Leishmanioses. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 350 milhões de pessoas estejam suscetíveis à infecção. Nas Américas, as leishmanioses estão presentes em 18 países. Em 4 anos de trabalho, a equipe do ICC investigou casos e capacitou profissionais na região metropolitana de Curitiba, no município de Umuarama e nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O trabalho reforça a importância da atuação regional do ICC no atendimento a pacientes referenciados, na realização de diagnóstico parasitológico e imunológico das leishmanioses, na capacitação e no controle de qualidade de diagnóstico parasitológico, além da assessoria que presta a profissionais de saúde para assistência a pacientes e a municípios para a organização de serviços.  “A peculiaridade é que, diferente dos outros laboratórios de referência, que recolhem amostras, nós realizamos um treinamento na área endêmica. Ocorreu na cidade gaúcha de São Borja, por exemplo. Havia, na região, suspeitas de casos caninos, mas não se tinha confirmação por exames laboratoriais. Os veterinários locais, por nunca terem tido contato com a doença, não tinham qualificação para coletar amostras de forma adequada, armazenar e enviar o material para o laboratório. Nesse momento, em parceria com órgãos estaduais, nossa equipe promoveu um treinamento teórico com os profissionais locais, em sua maioria servidores públicos”, explica o pesquisador do Laboratório de Biologia Celular do ICC e coordenador da referência na unidade da Fiocruz no Paraná, Fabiano Figueiredo.

A equipe ainda vem ampliando a abrangência da atuação, desenvolvendo ações internacionais. “Já realizamos treinamento para profissionais do Uruguai e da Argentina, fortalecendo o trabalho de saúde nas fronteiras”, conta o pesquisador.

A analista laboratorial e integrante da equipe do ICC, Monique Paiva, participou das intervenções da Fiocruz nas cidades da região Sul e avalia que há um crescimento no diagnóstico de casos.   “A doença historicamente é mais prevalente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Porém, estamos percebendo, com o trabalho de campo, um aumento nos números de diagnósticos na região Sul. Podemos relacionar esse aumento ao trabalho de capacitação dos profissionais para identificar a doença, desenvolvido pelo ICC. Uma doença antes negligenciada passou a ser foco de um trabalho de vigilância nessas regiões”, pontua Monique.

A Rede Fiocruz de Referência em Leishmanioses é formada por laboratórios de quatro outras unidades técnico-científicas da Fiocruz, além do ICC: Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Instituto de Pesquisa René Rachou (Fiocruz Minas) e Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães (Fiocruz PE).

“Nossa subcoordenação está avançada em relação aos exames laboratoriais. Nosso objetivo, em um futuro próximo, é criar um Centro de Referência Regional para Leishmaniose na região Sul. Sabemos que há demanda para isso e temos essa expertise”, finaliza Fabiano.

Sobre a Leishmaniose

Considerada uma doença negligenciada, a leishmaniose pode se apresentar de diferentes formas clínicas, sendo mais prevalentes a tegumentar cutânea e a visceral. A transmissão ocorre pela picada de insetos vetores, os flebotomíneos, popularmente chamados de “mosquito palha”, que se infectam com o sangue de pessoas e animais doentes e transmitem o parasito a pessoas e animais sadios. Na forma visceral, o cão é considerado fonte de infecção para o vetor da doença. Por isso, a principal estratégia de controle do Ministério da Saúde é o diagnóstico canino e a retirada dos animais infectados da área endêmica. Já na forma tegumentar, o cão infectado não é considerado uma boa fonte de infecção para o vetor, portanto, não há indicação para sua retirada.

O tratamento para a doença em humanos é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e baseia-se na utilização de fármacos. Já no caso da leishmaniose canina, o Ministério da Saúde (MS) aprovou, em fevereiro de 2017, a comercialização de um medicamento. Porém, quem tem recursos, consegue tratar, mas a grande maioria ainda não tem essa possibilidade porque é uma doença de áreas mais pobres e o MS não disponibiliza esse tratamento, já que seu foco é a saúde humana. Além disso, o tratamento de cães com esse medicamento, cientificamente, não apresentou impacto no controle da doença.


TOP