Artigo na Nature Microbiology mostra a consolidação da área de vesículas extracelulares de fungos

por / quarta-feira, 23 Abril 2025 / Categoria Sem categoria

Um artigo recém-publicado na prestigiada Nature Microbiology reúne pesquisadores de seis países e quatro continentes para abordar os avanços e os principais desafios no estudo das vesículas extracelulares produzidas por fungos patogênicos. O artigo “Characterizing extracellular vesicles of human fungal pathogens”, é liderado pelo pesquisador Márcio Rodrigues, da Fiocruz Paraná, que há quase duas décadas inaugurou esse campo de estudo com uma descoberta pioneira. Também representam a Fiocruz Paraná nesse artigo as pesquisadoras Lysangela Alves e Flavia Reis, além das ilustrações de Wagner Nagib.

As vesículas extracelulares são estruturas produzidas por diversos tipos celulares e exercem papéis fundamentais na comunicação entre células, na modulação da resposta imunológica e até no transporte de toxinas. No caso dos fungos, essas vesículas estão associadas à virulência, à resistência a antifúngicos e ao potencial desenvolvimento de vacinas e terapias.

Foi em 2007 que Rodrigues, ao lado de colegas como Leonardo Nimrichter (UFRJ) e Rosana Puccia (UNIFESP), observou pela primeira vez evidências da existência dessas vesículas em fungos. A descoberta teve início durante uma visita de Rodrigues ao laboratório do professor Arturo Casadevall, nos Estados Unidos, e nasceu da observação de imagens microscópicas que sugeriam a liberação dessas estruturas pelos fungos.

“Na época, não havia consenso se isso era real ou um artefato. Hoje, já sabemos que cerca de 30 espécies fúngicas produzem vesículas extracelulares, segundo estudos de grupos de todo o mundo”, afirma Rodrigues.

A publicação na Nature Microbiology representa, para Rodrigues, não apenas um avanço científico, mas também um marco simbólico. “É animador observar que uma área descoberta por um grupo brasileiro atraiu interesse de grandes centros científicos. Isso mostra que somos tão capazes de fazer boa pesquisa quanto os centros internacionais mais tradicionais”, afirma.

O artigo é resultado de uma colaboração internacional que envolveu 22 pesquisadores. Coordenar tantas perspectivas e experiências foi um desafio. “Foram necessárias muitas rodadas de discussão até que chegássemos a um consenso sobre as principais perguntas a serem enfrentadas nos próximos anos”, relata.

Colaborações estratégicas

Entre os coautores, estão pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine (EUA), Instituto Pasteur (França), da Universidade de Birmingham (Reino Unido) e da Universidade de Wisconsin (EUA), entre outras instituições. Segundo Rodrigues, essas parcerias são essenciais para o fortalecimento da área. “Esse artigo é co-assinado por dois colegas do Instituto Pasteur que fazem parte da Unidade Internacional de Pesquisa denominada Vesículas Extracelulares de Fungos, que reúne nosso laboratório na Fiocruz, o Pasteur e a Universidade de Birmingham.”

Desde a descoberta, o campo avançou rapidamente. Hoje, há evidências de que as vesículas extracelulares carregam compostos que aumentam a virulência dos fungos e que também atuam promovendo resistência a antifúngicos. “Essas estruturas têm um papel central na capacidade dos fungos de causar danos ao hospedeiro humano”, explica Rodrigues.

O desafio atual é melhorar as metodologias de estudo dessas vesículas. “Com abordagens mais refinadas, poderemos compreender melhor suas funções e aumentar as chances de usá-las no desenvolvimento de vacinas e novos fármacos.”

Para o pesquisador da Fiocruz Paraná, o futuro da área é promissor. “Há estudos em várias partes do mundo demonstrando que vesículas extracelulares de fungos são protótipos vacinais eficientes. Também investigamos candidatos terapêuticos extraídos dessas estruturas. Esperamos ver avanços concretos nos próximos anos.”

A publicação, segundo Rodrigues, sela um ciclo iniciado com desconfiança e incertezas, e hoje consagrado como um campo científico robusto, com grande potencial biotecnológico e aplicações na medicina.

Acesse o artigo: https://www.nature.com/articles/s41564-025-01962-4

Imagem científica: Wagner Nagib/ Fiocruz Paraná


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