Brasil inaugura em Curitiba a maior biofábrica do mundo para combate à dengue

O combate à dengue e a outras arboviroses ganhou um novo capítulo no sábado, 19 de julho, com a inauguração oficial da maior biofábrica do mundo especializada na criação de Aedes aegypti com Wolbachia, a Wolbito do Brasil. A unidade, instalada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), é fruto de uma parceria entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) — uma organização da Fiocruz e do Governo do Paraná — e o World Mosquito Program (WMP), organização internacional sem fins lucrativos.
O evento de inauguração contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que celebrou a estrutura como símbolo da soberania científica e tecnológica do país. “A maior biofábrica do mundo dedicada à tecnologia Wolbachia representa um exercício de soberania e inovação nacional. Ela simboliza o fortalecimento da ciência, geração de empregos, produção de tecnologia local e, acima de tudo, segurança para a saúde pública”, destacou Padilha.
Com mais de 3,5 mil metros quadrados, equipamentos de automação de última geração e uma equipe de cerca de 70 profissionais, a fábrica será responsável pela produção de até 100 milhões de ovos de mosquitos por semana. Os mosquitos carregam a bactéria Wolbachia, que impede a multiplicação dos vírus da dengue, zika e chikungunya em seu organismo. A tecnologia já é aplicada em 14 países e está no Brasil há pouco mais de uma década, com resultados animadores — como em Niterói (RJ), onde a incidência de dengue caiu 69% após a implantação total do método.
“O Brasil demonstra mais uma vez sua capacidade de liderar soluções inovadoras em saúde pública. A Wolbito é um marco que consolida uma política pública baseada em ciência, compromisso social e articulação entre instituições públicas e internacionais”, afirmou Mario Moreira, presidente da Fiocruz. “Hoje celebramos o Wolbito, mas também estamos avançando em vacinas, diagnósticos e vigilância. Essa é uma luta que se vence com ciência, união e engajamento da população”, completou.
A nova biofábrica atenderá exclusivamente ao Ministério da Saúde e será responsável pela distribuição dos chamados “Wolbitos” para regiões com alta incidência de arboviroses. Já estão na lista seis municípios em fase de implantação: Balneário Camboriú, Blumenau e novas áreas de Joinville (SC); Valparaíso de Goiás e Luziânia (GO); e Brasília (DF). A liberação dos mosquitos, prevista entre agosto e setembro, será precedida por uma intensa campanha de comunicação e engajamento social, considerada essencial para o sucesso da estratégia.
“A Fiocruz tem um papel estratégico na consolidação de tecnologias para o SUS. Esta fábrica em Curitiba é mais uma resposta concreta da ciência brasileira ao desafio das arboviroses”, resumiu Fabiano Figueiredo, diretor da Fiocruz Paraná. “Estamos falando de saúde, de vidas poupadas e de um futuro em que a ciência protege a população com eficiência e responsabilidade.”
O método não utiliza mosquitos transgênicos e é seguro, natural e autossustentável. Os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os Aedes aegypti locais e transmitem a bactéria às futuras gerações, o que reduz a transmissão dos vírus. “Nosso diferencial está na comunicação com a população. Um território bem-informado adere melhor à proposta, o que amplia o impacto”, explicou Luciano Moreira, CEO da Wolbito e responsável por trazer a tecnologia ao país. Ex-pesquisador da Fiocruz, ele participou do estudo pioneiro na Austrália, em 2008, que iniciou o desenvolvimento do método.
A iniciativa integra uma estratégia nacional coordenada pelo Ministério da Saúde, que já beneficiou cerca de 5 milhões de brasileiros e agora tem como meta alcançar 70 milhões de pessoas nos próximos anos. A escolha dos municípios a serem atendidos segue critérios técnicos, epidemiológicos e estruturais definidos pelo MS, com apoio da Fiocruz e das prefeituras.
Estudos apontam que para cada R$ 1,00 investido no Método Wolbachia, a economia gerada aos cofres públicos em custos com medicamentos, internações e atendimentos pode chegar a R$ 549,00, reforçando também o aspecto econômico da solução.
A biofábrica representa mais do que inovação tecnológica, é um exemplo de como ciência, política pública e ação conjunta podem transformar realidades.
Com informações do Portal da Fiocruz
Fotos: Itamar Crispim