Integridade em pesquisa é tema de debate no ICC
Questões relacionadas à plágio e os desafios impostos aos pesquisadores na área foram discutidos
Uma discussão ampla sobre as questões éticas relacionadas a produção científica foi promovida no Instituto Carlos Chagas (ICC/ Fiocruz Paraná) no último dia 28 de junho. Ministrada pela pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sonia Vasconcelos, a palestra “Integridade em Pesquisa – Plágio e outras questões éticas em publicações”, fez parte da programação dos seminários oferecidos pelo Programa de Pós-graduação em Biociências e Biotecnologia da unidade. Os desafios e avanços na área foram abordados pela convidada, que falou para uma plateia numerosa e atenta.
Logo no início de sua apresentação, a pesquisadora – que participa da coordenação do Encontro Brasileiro sobre Ética e Integridade na Pesquisa (BRISPE, www.brispe2016.org) – trouxe um panorama sobre s questões éticas que permeiam mudanças na forma de fazer e avaliar a ciência nos dias atuais. “Principalmente com a chegada das novas tecnologias, com a internet, os questionamentos sobre os processos envolvidos na produção científica estão cada vez mais evidentes”, analisou Sônia. “Quem está chegando agora, não experimentou práticas mais tradicionais, por exemplo, no sistema de publicações. Hoje, existe uma atenção maior com questões relacionadas à plágio e a distorção de autoria pelos editores dos principais periódicos e bases de produção científica no mundo. Entretanto, apesar de haver uma definição formal sobre o plágio, ela não é clara em muitos aspectos. Sobre o plágio textual, não há métricas para definir limites aceitáveis e nem um consenso internacional sobre o que é plágio. Critérios são muitas vezes subjetivos”, reforçou.
De acordo com a especialista, os desafios colocados nos últimos anos exigem dos pesquisadores ainda mais atenção e cuidado durante todas as fases do processo de realização da pesquisa. Um histórico sobre a evolução de casos de plágio e da publicação de notas de retratação foi apresentado pela palestrante, que trouxe exemplos emblemáticos, envolvendo periódicos importantes como a revista Nature, para suscitar a discussão.
Entre as ações apontadas por Sonia para a intensificação do enfrentamento do plágio pelas editoras científicas está a utilização de sistemas anti-plágio na submissão de artigos, especialmente a partir de 2008. “A preocupação com a correção da literatura em bases de produção científica que não têm grande visibilidade vem sendo percebida no caso da América Latina, por exemplo. Até há pouco tempo, não era muito fácil encontrar notas de retratação em bases mais locais, mas isso está mudando”, pontua. “É um movimento que aos poucos vai ajudando a delinear a forma de comunicação científica que temos hoje, uma forma que não é definida somente pelas bases internacionais. A tendência é que esse processo de correção da literatura científica se amplie para bases menos tradicionais, despertando uma atenção maior dos autores, especialmente por conta da velocidade com que as mudanças vêm ocorrendo”, complementa.
Aspectos associados as questões éticas ligadas ao processo que leva a uma publicação estão refletidas em ações editorias, segundo a pesquisadora. “Percebemos o aumento no número de eventos e publicações que abordam esse tema em vários países, incluindo o Brasil e que trazem para a arena de discussão, aspectos associados à produção acadêmica institucional e ações editoriais relacionadas”, finalizou.