Fiocruz Paraná realiza seminário para debater novos cenários da dengue na região Sul

por / quinta-feira, 23 Maio 2024 / Categoria Sem categoria

No dia 17 de maio, o Instituto Carlos Chagas (ICC/ Fiocruz Paraná) realizou o seminário “Novos cenários da dengue na região Sul: perspectivas e desafios”. O encontro apresentou os cenários epidemiológicos da doença e as discussões incluíram temas como a produção de kits e a importância do diagnóstico, controle vetorial, manejo clínico da dengue e as ações da Fiocruz no enfrentamento das arboviroses.

A mesa de abertura contou com a participação do representante da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), Carlos Frederico Campelo de Albuquerque; da Coordenadora-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Livia Frutuoso; da Chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz e coordenadora das Estratégias de Integração Regional e Nacional da Presidência da Fiocruz, Zélia da Luz; e da Coordenadora de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (SESA), Ivana Lucia Belmonte.

Em sua fala de boas-vindas, o diretor da Fiocruz Paraná e anfitrião do evento, Stenio Fragoso, ressaltou a importância do encontro “Nessa mesa de abertura estão representados diferentes faces das instituições que precisam trabalhar de forma integrada no enfrentamento das arboviroses. As mudanças climáticas estão trazendo alterações drásticas e levando a esses quadros epidemiológicos extremamente diferentes e tão complicadas para a saúde pública do país”, afirmou Stenio.

Já a representante da presidência da Fiocruz, Zélia da Luz, explicou que o seminário é parte de uma estratégia de ações coordenadas realizadas pela Fundação. “Trago uma saudação do nosso presidente Mario Moreira, que, quando iniciou a epidemia, nos pediu para planejar ações integradas com todas as unidades da Fiocruz para responder com agilidade os desafios. Essa integração vai além das unidades, com a relação estreita com a OPAS, o Ministério da Saúde e com as assembleias legislativas. Já fizemos um encontro no Rio, um na Bahia e agora aqui”, contou Zélia.

Cenários epidemiológicos

As primeiras apresentações do seminário abordaram o cenário atual da epidemia de dengue. O representante da OPAS, Carlos Frederico Campelo de Albuquerque, mostrou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) avaliou, em 2023, a situação global da doença com potencial risco de maior propagação internacional e uma complexidade de fatores que afetam a transmissão. “Esse risco está associado a fatores ambientais, como chuvas intensas e umidade e temperatura devido às alterações climáticas e aos determinantes sociais, como urbanização, crescimento populacional e outros fatores relacionados ao processo de globalização”, ponderou. Os dados registram que, de 1981 a 2024, o número de casos aumentou de 1,6 milhões para 16,3 milhões em todo o mundo. “O ano de 2023 foi o que registrou o maior número de casos, 4,6 milhões. Em 2024, foram registrados 7,6 milhões de casos. Superando, em três meses, os casos do ano anterior”, ressaltou Albuquerque.

A segunda convidada a falar foi a Coordenadora-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Livia Frutuoso. De acordo com a especialista, os números no Brasil acompanham o cenário global. “Em 2024 registramos mais casos de dengue do que a soma do período 2020 a 2023. Os estados de Minas Gerais, Bahia, Espirito Santo e Mato Grosso concentram 78% dos casos no Brasil”, afirmou. Livia falou também sobre os desafíos para o enfrentamento da doença, colocando a alternância dos sorotipos, a infestação do aedes aegypti em 5.385 municípios e o aumento das temperatura como fatores determinantes. “O Ministério da Saúde vai investir no manejo integrado dos vetores, na capacitação de profissionais de saúde e a organização dos serviços, além de implantar o Centro de Operações Dengue e outras arbiviroses, que contará com 16 apoios locais distribuídos pelo país e o repasse de R$138,3 milhões em recursos”, anunciou.

Para falar da situação epidemiológica na região, o seminário recebeu a, coordenadora de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do Paraná (SESA), Ivana Lucia Belmonte. Na série histórica apresentada pela convidada, os casos de dengue no estado passaram de 26.023 em 2007 para 366.550 em 2024, ano que já registra 277 óbitos pela doença.  “Estamos trabalhando no enfretamento com ações que incluem campanhas de conscientização, vacinação, a atuação dos núcleos de vigilância entomológicas e a implantação do Projeto Wolbachia nos municípios de Foz do Iguaçu e Londrina, entre outras”, exemplificou Ivana.

Na capital paranaense, o cenário também é preocupante. Foi o que apresentou a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Beatriz Battistella. “Foram notificados 22.107 casos no município e dois óbitos só nesse ano segundo o painel de monitoramento. Os focos do mosquito aumentaram de 65 em 2010 para 1965 em 2024, uma média de 600 focos encontrados por mês”, destacou. A secretária também apresentou as ações de vigilância epidemiológica e prevenção desenvolvidas pela equipe. “O desafio é lidar com a população, fazer com que saibam a importância do seu papel na prevenção. A responsabilidade não pode ser só da administração municipal, mas precisamos conscientizar a população”, ponderou Beatriz.

Vigilância, diagnóstico e ações de enfrentamento

A segunda parte do encontro foi iniciada com a fala da virologista da Fiocruz Paraná, Cláudia Nunes Duarte dos Santos, sobre a atuação do Laboratório de Referência de Vírus Emergentes, associado ao Laboratório de Virologia Molecular, coordenado por ela. “Nos últimos cinco anos, liberamos para o Ministério da Saúde mais de 35 mil laudos. O nosso diferencial é que como todos os serviços orbitam em torno do Laboratório de Virologia Molecular, nós temos a capacidade de desenvolver insumos e reagentes”, afirma Cláudia. “Desenvolvemos rotineiramente painéis de anticorpos monoclonais e isso nos permite ter independência tecnológica, autonomia e ainda suprir a rede de laboratórios quando necessário”, explica a virologista.

Durante o evento, foi apresentada uma nova área de atuação do Laboratório de Referência, a vigilância genômica dos arbovírus. “A iniciativa é integrada à Rede Genômica da Fiocruz, protagonista no monitoramento das cepas circulantes no país durante a pandemia de Covid-19, em um esforço global, que instalou uma grande capacidade de sequenciamento de amostras no país”, explica o pesquisador da Fiocruz Paraná, Tiago Gräf. “O trabalho teve início em novembro de 2023 e já foram sequenciadas 154 amostras, vindas de 115 municípios brasileiros, e que mostraram a predominância do sorotipo 2 do vírus da dengue”, complementa Tiago. Os dados referentes à dengue estão disponíveis na plataforma da Rede Genômica da Fiocruz (www.genomahcov.fiocruz.br) que apresenta, por meio de gráficos interativos e dados detalhados de regiões e estados brasileiros, as tendências de circulação de novas variantes e entender melhor a epidemiologia do vírus em nosso país.

Outro tema debatido durante o encontro foi a importância do diagnóstico para o atendimento clínico dos pacientes. Nesse contexto, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) apresentou o teste molecular, na metodologia qPCR, para detecção de Zika, Dengue e Chikungunya. Produzido pela instituição, parceira da Fiocruz, o produto é destinado a testagem de pacientes com suspeita de infecção por Zika, Dengue e Chikungunya, ou ainda, infecções mistas. “Nosso teste é o único a identificar os quatro sorotipos de dengue e a coinfecção com qualquer combinação entre as doenças causadas pelas arboviroses. Já forma entregues ao SUS cerca de 310 mil kits e ainda há uma encomenda de mais 950 mil testes que deverão ser entregues até o início do segundo semestre”, enfatizou o gerente de Desenvolvimento Tecnológico do IBMP, Fabrício Marchini.

A representante da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Tânia Fonseca fez um resumo das inúmeras ações que a Fiocruz desenvolve no enfrentamento das arboviroses. “A estratégia que adotamos parte de ações coordenadas que buscam integrar os grupos de pesquisa, fomentar discussões, manter a comunicação com as três esferas gestoras e informar a população. Esse trabalho tem uma complexidade institucional, mas também tem um potencial de dar a resposta rápida tão necessária”, conclui Tânia.

O médico infectologista, pesquisador e assessor da Presidência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, um dos organizadores do evento, fez a última fala do evento, pontuando os destaques de cada palestrante convidado. “Estamos vivendo uma inquietante realidade em relação à dengue nesse momento. É inconcebível que uma enfermidade que está no nosso convívio há 40 anos ainda cause esse número de óbitos. Esses seminários regionalizados são importantes porque vamos conhecendo as realidades e experiências bem-sucedidas”, ponderou. “Os dados mostram o preocupante cenário epidemiológico aqui no Paraná e a complexidade da dinâmica de transmissão que tem sido observada nos últimos anos. Muito provavelmente a dengue chegou no estado para ficar, inclusive em Curitiba. Precisamos estar preparados, com a rede assistencial organizada para enfrentar esse desafio”, concluiu Rivaldo.

Fotos: Itamar Crispim

 


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