Artigo do ICC é o mais citado do programa SciELO em 2015
Revista ‘Memórias’ é reconhecida por ter publicado o artigo mais citado de 2015 na base de dados do programa SciELO. Estudo abordou a transmissão do Zika no Brasil
O artigo científico mais citado de 2015 na base de dados do programa SciELO (Scientific Eletronic Libray Online) foi publicado na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’. A premiação, concedida pela empresa Clarivate Analytics, responsável pela Web of Science, banco de dados que serve de base para o cálculo dos principais indicadores de relevância das publicações científicas, reforça o potencial da pesquisa desenvolvida no Brasil. Ao todo, 1.285 periódicos são publicados na plataforma da biblioteca digital, que está presente em 13 países ibero-americanos e na África do Sul. Liderado pelo Instituto Carlos Chagas (Fiocruz-Paraná) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o estudo confirmou a presença do vírus Zika em pacientes de Natal, apontando a transmissão da doença no Brasil.
“O compromisso do corpo editorial e dos revisores que atuam nas ‘Memórias’ é publicar artigos de qualidade, relevantes para a ciência e para a saúde pública nacional e internacional. Por isso, é com grande satisfação que recebemos esse reconhecimento que presta notoriedade ao valor ímpar da pesquisa e de uma revista brasileira”, afirma Claude Pirmez, pesquisadora do IOC e editora-chefe das ‘Memórias’.
Da doença desconhecida ao vírus ZikaO certificado de premiação foi entregue recentemente, em São Paulo, durante a conferência que celebrou os 20 anos do programa SciELO. Também foram destacadas a revista Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, pelo artigo mais citado de 2016, e a sul-africana Bothalia, pelo trabalho mais citado de 2017. O periódico Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, recebeu ainda o reconhecimento pelo estudo com mais citações entre 2015 e 2017.
Casos de uma doença semelhante à dengue identificados no Nordeste no começo de 2015 foram o ponto de partida do artigo mais citado de 2015. Considerando a possibilidade de uma nova infecção no Brasil, amostras de 21 pacientes de Natal foram coletadas por pesquisadores da UFRN e enviadas ao Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz-Paraná. Os testes realizados afastaram a possibilidade de infecção pelos vírus da dengue e da chikungunya. As amostras foram, então, testadas para o vírus Zika, cuja transmissão nunca tinha sido detectada no Brasil. Utilizando a técnica de RT-PCR, que amplifica o material genético do patógeno, os pesquisadores identificaram o Zika em oito amostras. O achado foi confirmado pelo sequenciamento do genoma completo do microrganismo em dois casos, o que permitiu ainda caracterizar a linhagem viral asiática. O trabalho contou também com a parceria da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte.
“A primeira suspeita de que se tratava da infecção pelo vírus Zika surgiu a partir das manifestações clínicas dos pacientes, que apresentavam pouca febre, mas muito exantema e coceira, além de alguns outros sintomas. Alguns casos tinham exame de sorologia positivo para dengue, mas como não havia sinais de dengue grave, suspeitamos de que se tratava de outra doença. A união entre diagnóstico clínico e laboratorial foi fundamental para o resultado do trabalho”, afirmou o infectologista Kleber Luz, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da UFRN e autor do artigo. “Naquela época, considerando o comportamento do vírus no mundo, já tínhamos a perspectiva de que o Zika chegaria ao Brasil. Por isso, estávamos preparados para fazer o diagnóstico. Recebemos as amostras através da parceria com a UFRN e, além da identificação por PCR, realizamos a caracterização do genoma do vírus, o que é importante para não haver dúvidas sobre o achado. Além da grande repercussão, a publicação nas ‘Memórias’ permitiu a rápida divulgação do resultado para a comunidade científica e para a sociedade”, aponta a virologista Claudia Nunes Duarte dos Santos, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz-Paraná e autora do artigo.
Revista ‘Memórias’: tradição e modernidade
Em 2017, ‘Memórias’ registrou fator de impacto recorde pelo segundo ano consecutivo, atingindo a marca de 2.833, segundo maior índice entre as revistas científicas brasileiras. Uma das publicações mais reconhecidas do mundo nos campos da medicina tropical e da parasitologia, o periódico teve mais de sete mil citações em artigos científicos publicados, sendo o mais citado da América Latina pelo 18º ano consecutivo.
Fundada por Oswaldo Cruz em 1909, ‘Memórias’ é um dos periódicos mais antigos da América Latina. Alinhada às tendências contemporâneas da edição científica, a revista aceita, desde o ano passado, a submissão de artigos previamente divulgados em plataformas de ‘pré-print’. O periódico também conta com uma via de publicação acelerada, chamada de ‘Fast Track’, voltada para estudos sobre Zika, febre amarela, chikungunya e ebola. Além disso, integra o Comitê de Ética em Publicação (Cope, na sigla em inglês), comprometendo-se com princípios de transparência e boas práticas de publicação, além de um código de conduta editorial.
Todo o conteúdo da revista é disponibilizado online, com versão digital de mais de um século de acervo. Os estudos publicados também estão indexados em bases de dados internacionais, incluindo SciELO e PubMed Central. O periódico tem acesso aberto, com gratuidade tanto para publicação como para leitura. O financiamento da revista é realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz e pela Fiocruz, juntamente com recursos obtidos através de editais de agências de fomento.
Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Vinícius Ferreira
24/10/2018
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)